terça-feira, 11 de outubro de 2011

PCC tupiniquim


Em meados da década de 90, quando fazia parte da equipe da Editoria de Polícia do Jornal Bahia Hoje, extinto poucos anos depois de sua fundação, um fantasioso colega (estou sendo generoso no adjetivo), que dizia ser o maior jornalista investigativo da “terrinha”, descobriu através de suas privilegiadas fontes o surgimento do PCN (Primeiro Comando do Nordeste), facção criminosa ligada ao famoso PCC paulista, que estaria articulando seus tentáculos para ampliar seu reinado de terror.  
Felizmente isso não se configurou (e nem poderia já que o PCN nunca existiu) digamos graças ao faro do repórter, que fazia parte de uma “legião do bem” (acredite!) formada por alguns delegados, agentes de polícia e advogados criminalistas.  Anos depois, parte desses paladinos da justiça acabaram presos (Injustiçados, tenho certeza!), acusados de um rosário de crimes. Alguns deles escaparam ilesos, principalmente os delegados, permanecendo até hoje na ativa, sem o mesmo desempenho de outrora - Graças a Deus!
Mas, voltando ao surgimento do nosso perigoso PCC, ou melhor, do PCN, em pouco tempo ele foi esquecido, sem realizar qualquer grande ação na Bahia ou em outro lugar do Nordeste. Isso não manchou a tradição de A Tarde, que acreditou na perspicácia do seu repórter, mesmo sendo ironizado pelo, na época, novo concorrente Bahia Hoje, jornal moderno e atraente que surgiu já com a pretensão de ser líder de mercado. Na coluna intitulada Bahia com H, sempre aparecia uma notinha do tipo “O Primeiro Comando do Nordeste é criação do maior do Norte/Nordeste”, numa alusão à forma de como era chamado o A Tarde, pelo menos por parte de seus funcionários e leitores.  
Querem saber o que aconteceu com o fabuloso (não é o jogador Luís Fabiano) repórter?  Anos depois, quando o jornal descobriu outras de suas invenções em busca de notoriedade, para ele e seus compadres (era assim que se cumprimentavam), foi sumariamente demitido e não demorou apareceu envolvido com certo traficante de drogas. Vale ressaltar que a polícia não provou ter ele relação com o comércio de entorpecentes. Ficou esclarecido apenas que era amigo do cabra e que gerenciava uma casa de shows pertencente ao traficante, onde rolava muito pó.
 Além de integrar a já citada irmandade, o repórter investigativo era também destaque em um grupo de cronistas policiais que acabei batizando de “os quatro cavalheiros do apocalipse”.  Trabalhavam em jornais diferentes, à exceção de dois deles, e quando somavam esforços para escrever sobre determinado (diria conveniente) assunto, inevitavelmente três dos quatros jornais da cidade publicavam matéria. Apenas o Correio não tinha profissional no esquema, pois na sua pequena equipe ninguém era chegado a tramoias.  
Anos se passaram e vejo surgir nova versão tupiniquim do PCC. É o tal do PCI (Primeiro Comando do Interior) levado ao conhecimento do grande público pelo Correio e com destaque, quase que diariamente, por um programa de televisão.  Só queria entender porque esses bandidos “tão perigosos” resolverem atacar apenas na região da histórica cidade de Cachoeira que, curiosidade tem como titular da delegacia local um delegado evangélico disposto a por fim à fama do bandidão de corpo fechado que teria criado a facção criminosa. E isso contando com uma equipe mínima de policiais. É quase uma guerra santa. Vixe! 
Também estou curioso para conhecer a ficha do tal chefão mafioso, onde deveriam constar inúmeros e audaciosos assaltos e assassinatos, e saber onde conseguiu a potente arma que ostenta nas fotos divulgadas, uma garruncha popularmente conhecida como dois tiros e uma carreira. Imagino (hábito comum aos jornalistas modernos que ainda estou assimilando) que seja importada ou privativa das Forças Armadas. Anteontem o cabra retado levou oito tiros em confronto com a polícia e não morreu, acredite se quiser. Estou louco para conhecer sua mãe-de-santo. Saravá, meu Pai!

9 comentários:

  1. Mestre Erival:

    Parabéns pelo seu blog, uma pérola na Internet. A categoria de sempre. Eu, como só sei escrever abobrinhas, envio-lhe o endereço do meu Abobrinhas e Cia: david-lenon.blogspot.com. Dê uma olhada.

    Valeu?

    Dilton Cardoso

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  2. bom, só faltou você dar o RG do cara, né? Quer que publique aqui?... Tá parecendo os novos jornalistas quando resolvem "preservar" alguém: dão o endereço, nome de pai/mãe, todas as referências possíveis... menos nome e sobrenome da fonte rs rs.
    Ah, voltando ao nosso AM ops! digo nosso homem misterioso: você esqueceu de falar que ele também era dado a sair em diligência com a polícia. Ou seja: extrapolava as atribuições de jornalista, confundindo totalmente os papéis de fonte e repórter.

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  3. Eriva, uma das coisas que aprendi com vc no anexo do nosso extinto Correio da Bahia (não propriamente o asterisco de hoje) é que a curiosidade pode ser o grande alimento de um repórter. Além disso, acredito que uma boa dose de desconfiança em relação aos discursos oficiais enriquece a dieta do bom jornalista.
    Com isso, confio que é até uma reverência aos cânones da imprensa não engolir de primeira a ração diária fornecida pelas fontes oficiais. Cada discurso pode ser melhor mastigado e até mesmo ruminado se não cair bem no estômago de um repórter inconformado.
    Sobre o evento citado por você, pondero com pelo menos duas contradições: a sigla PCI que está gravada em muros de Cachoeira não foi pintada por nenhum foca maroto querendo inventar um assunto pra vender jornal (ademais, foi traduzida primeiro comando do interior pela propria autoridade policial); outra, se não há nada de tão perigoso nisso soa como incoerente colocar uma foto e um nome em um baralho do crime criado pelo governo (um instrumento quase lúdico de alerta para a população), além parecer mais absurdo mobilizar 20 policiais para um acampamento de 10 dias no mato. Uma guarnição inteira dessas não seria destacada para prender um fantasminha camarada.
    Você, como indivíduo e profissional, é dono de um menu ético dos mais completos e diversificados. É um mestre cuca com receitas valiosas para os novos profissionais, como foram para mim. Já as instituições obedecem a dinâmicas e interesses que fazem parte da alta gastronomia do poder. o que para muitos pode ser muito indigesto.
    Um abraço do seu colega,
    Pablo Reis

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  4. Caro Erival, "viu ai", parafraseando essas sandices que se repetem em alguns programas de rádio e TV, já temos um grave crime para o "bandido do corpo fechado": pixar paredes com a frase PCI. Só para registro: depois de alçado à ribalta do crime, o tal bandido e, sobretudo, a família dele ficaram apavorados e já negociavam sua rendição à polícia, como forma de proteção. A cabeça dele estava prêmio e foi a fama repentina que proporcionou isso a ele.

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  5. Sou suspeita para falar desse blog(rs). Mas é com muita satisfação, privilégio e orgulho que eu sou uma pseudo jornalista que passa pelo crivo do Mestre Erival Guimarães. Parabéns Eri!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Eriva, finalmente foi criado um espaço para se pensar jornalismo com a "categoria" devida. Tenho saudades do "anexotan", espaço de embates fervorosos, principalmente sobre a nossa atividade diária. Aqui conseguiremos expor todas nossas frustrações enquanto jornalistas das antigas, será que posso me intitular enquanto tal? Acho que ainda estou nova para ser beneficiada com o título então: enquanto jornalistas das antigas e quase das antigas (hehehe).
    Vivemos a era do jornalismo 8 ou 80. De um lado os novatos, equivocados com a máxima jornalística "furo de reportagem", criam factódios e se orgulham com algumas horas de fama e os tapinhas nas costas (neste caso não estou me referindo ao tal do PCI, apesar de achar que, neste caso, é dar muita noteriedade a um, como diria Maguila, "pombo sujo").
    Do outro, jornalistas, aqui me refiro aos que apostam na notícia fundamentada, como revelação da realidade, têm sido cada vez mais esmagados por um sistema perverso, uma espécie de camisa de força. Não existe coisa mais triste para um profissional que ver seu esforço de construir uma pauta embasada por dados estatísticos e fontes vastas ser atirado (arquivada) na cesta ao lado da CPU.
    Neste embate quem sempre vence é quem tem mais e viva quem tem dinheiro! Por enquanto, vamos nos satisfazer com as respostas do tipo: "não atende ao nosso público alvo" ou, simplesmente, "derrubaram a pauta". Por isso, tenho que admitir: Comemoro, calada, quando uma foca cria seu factódio. Não me anima o 8, então, que venha o 80. O conto de fadas, pelo menos, nos diverte. Uma brincadeirinha para descontrair. Vou ser sempre a sua seguidora!

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  8. Amigo Erival,
    Parabéns pelos posts. Vou estar na cola, tornando-me mais um dos seus seguidores.
    Ótimas recordações dos tempos da Ascom da Embasa. Preservar essa amizade até hoje, é um grande privilégio para mim.
    Abraço.
    JFParanaguá.

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