terça-feira, 6 de dezembro de 2011

'Causos' de polícia 4

Caí de avião e virei notícia

(parte final)

 A principal curiosidade das pessoas que conversaram (ou ainda conversam) comigo sobre o acidente que sofri de avião é com relação ao que senti naquele instante. Muita gente já se referiu a um frio na coluna comum em situações de perigo, mas aquele era realmente como se fosse um frio de morte. E quase foi.
Além disso, sempre faço questão de destacar a coragem de Ana Valéria, única mulher da tripulação, que se negou a deixar o avião sem socorrer os pilotos, enquanto os demais só pensavam em sair dali (o que era natural), com receio de uma explosão.
A cabeça girava em alta velocidade, fazendo pensar nos familiares, principalmente nos filhos, no que sobraria do meu corpo caso sobrevivesse (sempre tive pavor de ficar cego ou aleijado) e sabe lá mais o quê...
A área que nos esperava lá em baixo era um cerrado, com pouca vegetação e raras árvores. Foi numa delas que o avião se chocou, destroçando parte de sua asa direta (bem do meu lado) e, em seguida, bateu de barriga por três vezes, ficando praticamente destruído. Acredito que não caiu de bico por perícia dos pilotos, manobra que salvou nossas vidas.
O choque só me causou leve ferimento no braço esquerdo e, ainda tonto, tentava me soltar do cinto de segurança quando a gasolina que se encontrava na tubulação do resto da asa entrou em combustão. As labaredas me atingiram bem no rosto e braços, só dando tempo para proteger os olhos com as mãos. Na poltrona do outro lado do avião, Ana Valéria era alcançada pelo fogo nos calcanhares, também sofrendo queimaduras.
Além de nós dois, o piloto Geovane sofreu lesões graves no rosto, tendo que, posteriormente, ser submetido à cirurgia, enquanto o copiloto Sérgio teve queimaduras em um dos braços e ferimento na cabeça. O restante da tripulação nada sofreu.
Quando consegui me livrar do cinto travado, fazendo verdadeiro contorcionismo, deparei-me cercado pelas ferragens do avião e envolvido no pânico que tomou conta dos demais passageiros. Até hoje não sei como “Bambam” conseguiu passar por uma pequena escotilha (atualmente está bem mais fininho), sendo seguido pelos demais colegas e pelo deputado.
Mesmo ferida, Ana Valéria dava uma demonstração de coragem e solidariedade, negando-se a sair sem antes socorrer os pilotos, que gemiam entre as ferragens. Mas nada se podia fazer.
Por sorte, operários que ocupavam um caminhão, que trafegava numa rodovia próxima ao local, viram o acidente e se dirigiram até lá, ajudando no resgate dos feridos, utilizando picaretas e outras ferramentas. Já fora do que restou do avião, eu e Ana caminhamos para a pista, onde pedimos ajuda e fomos conduzidos na parte de traseira de uma picape até o pronto-socorro de Bom Jesus da Lapa.
Sempre que relato o acidente, brinco que devo várias horas extras a meu Anjo de Guarda e a todos os Espíritos de Luz que nos protegeram naquele dia. E que dia!



3 comentários:

  1. Não lembrava dessa parte de Ana Valéria. Ainda bem que você continua aqui depois de tudo isso! =D

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  2. Grande Erival,
    Li sua narrativa e voltei no tempo em que você me contou exatamente o que escreveu aqui.
    Prova de sua boa e eficaz memória. Também senti o mesmo pavor que naquela época, pois até ouvir uma história dessa é não é fácil.
    Lembrei também de alguns telefonemas que trocamos, quando você estava internado em uma clínica especilizada em tratamento de queimados. Acho que era em Candeias.
    Você falava da dor na hora do banho com escova, para retirar a pele morta e evitar cicatrizes, e do efeito dos remádios para suportar essa dor.
    O enfermeiro lhe dizia: "Ou você toma o banho sozinho, seguindo as recomendações, ou lhe damos o banho. Você escolhe". Ou seja, tá ferrado de qualquer forma.
    Lembra que você planejou fugir e chegou a sugerir que o sequestrássemos da clínica?
    E da vez em que você, sempre com esse plano de fuga na cabeça, sob efeito de fortes medicamentos, tentou sair do quarto. Imaiginou que estava vendo um porta aberta e era na verdade uma porta de vidro. Bummm. Na moral, dessa parte eu lembro e é impossível não rir.
    Lembro ainda que você falou da coragem de Bambam, que deu um soco e arrancou uma das janelas. Aliás, por onde vocês saíram.
    Velho, forte abraço e mais uma vez parabéns pelo blog.
    O que achei interesante nesses três capítulos foi sua capaciade de sintetizar os fatos sem deixar de contar o que ocorreu naquela dia.
    Valeu,
    Clécio Max

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  3. Foi realmente um episódio muito difícil. Contei a história neste blog, mas confesso que não gosto de lembrar daqueles dias, dos mais sofridos de minha vida. Engraçado, não recordava do plano de fuga. imagine como estava muito doido. Valeu, um abraço.

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