Vi
muita coisa que me indignou no jornalismo baiano, em especial na reportagem
policial, ao longo dos meus vinte e tantos anos de profissão, principalmente
com relação à linguagem desrespeitosa e chula utilizada por alguns
profissionais e à publicação de fotos chocantes, a exemplo de corpos
ensangüentados de vítimas de homicídios ou acidentes. Mas, no quesito
desrespeito, ninguém nunca chegou tão longe como os atuais programas de TV
sensacionalistas, com “repórteres”, verdadeiros inquisidores, agindo sem limites.
Depois
de atuar por alguns anos como repórter nos jornais Correio da Bahia e A
Tarde, fui convidado a assumir a subeditoria de Polícia no Bahia
Hoje, criado no início da década de 90. Naquele jornal, que infelizmente
durou pouco, implantamos uma linha editorial diferente, dispensando o uso de
termos pejorativos e desrespeitosos quando nos referíamos a pessoas presas pela
polícia (muitas vezes inocentes) e com nossos fotógrafos orientados a registrar
cenas de corpos e outras tão chocantes somente em segundo plano. Com o passar
dos anos os demais jornais da cidade adotaram a mesma postura.
No
entanto, enquanto o jornalismo impresso optava por uma linha mais ética, a
mídia televisiva investia em programas sensacionalistas, buscando ganhar
audiência com a exibição de cenas bizarras e uma performance, digamos,
inadequada de seus “repórteres”.
Quase
todos os dias assistimos esses profissionais enfiando o microfone nos rostos de
pessoas detidas apenas sob suspeita de terem praticado algum delito, fazendo
indagações descabidas e até tocando nos acusados. Não faz muito tempo um desses
entrevistadores passou a mão nas nádegas de um dos presos, a quem insistentemente
interrogava ao vivo. A sanha desses programas é tamanha, que desrespeitam até
orientação da Justiça sobre a veiculação de imagens de adolescentes, mesmo de
costas ou com os rostos preservados.
Na
maioria das vezes, agem com a conivência de policiais, aos quais se referem
como “guerreiros”, que, em troca de visibilidade midiática que lhes afaga o
ego, permitem a livre atuação, seja na rua ou dentro de uma delegacia. E o pior
é que não se tem feito nada para coibir prática tão absurda. Até quando vamos ter
que aturar?
A mídia baiana é uma vergonha, sensacionalismo total...
ResponderExcluirIsso aí Eri. Vergonha é pouco para classificar os absurdos que são cometidos diariamente por esses programas que dizem fazer "Telejornalismo". Apresentadores e repórteres (quase nenhum jornalista) que maltratam a língua portuguesa a todo o momento. Isso talvez nem se configure como a pior parte, diante das "entrevistas". Como para trabalhar com jornalismo, não é necessário ter diploma, somos obrigados a aguentar esses absurdos. Quem sabe um dia melhore....
ResponderExcluirBom ter colegas que ainda sustentam a ética como timor no jornalismo. É isso aí, Erival! Levarei sua discussão à slada de aula. Um abraço!
ResponderExcluirZeca Peixoto
Valeu companheiros. É bom saber que não estou sozinho nessa empreitada.
ResponderExcluirEsses programas são um acinte aos seres humanos. Lixo. O Estado deveria proibir a entrada desses "repórteres" nas celas para transformar a miséria desses pobres coitados em diversão.
ResponderExcluirNobre Erival:
ResponderExcluirO problema é que existe público para esta droga televisiva. Cada dia mais a TV aberta, que deveria ser um veículo de utilidade pública, presta um desserviço à população. Entretanto, tem público para isso. Excetuando a TVE (com programas educativos, de boa qualidade e infelizmente com baixa audiência) e algumas evangélicas, pouco se produz de bom no vídeo. Na maioria das emissoras, não há vida inteligente na frente do aparelho. Um grande número de pessoas absorve esse lixo que é divulgado diariamente no canal aberto, seja nos noticiários, seja nas novelas, seja nos malfadados reality shows etc. com um prazer grotesco. E o governo não realiza qualquer espécie de filtro. Não falo em censura. Falo em filtro. Alguma coisa oficial que impedisse esse lixo televisivo, que, sobretudo, influencia negativamente os jovens presentes ao ambiente no momento de sua divulgação. Porém o lixo midiático tem público.
E sabe por que tem público? Porque o ensino no Brasil é uma farsa. Entra presidente, sai presidente e o que a gente vê é a falta de educação, de civilidade, a cultura da baixaria. Não há investimento na formação do jovem, do povo. Então, a gente sai às ruas e vê pessoas que mal sabem falar ou escrever, que são aprovadas mesmo sem saber os assuntos dados em aula, que jogam lixo no chão, que ouvem som alto nos coletivos, que destampam a mala do carro para despejar pagode e outros sons de péssima qualidade (cadê a boa música baiana?) nas vias públicas. O desrespeito ao direito do outro é uma realidade cruel.
Então, o que vemos na TV é um problema cultural. Um povo que recebe bolsa-esmola e que é "ensinado" a gostar do que não presta.
Portanto, meu caro Erival, o buraco é mais embaixo. Assim, resta-nos a indignação com os governantes deste País. Apenas mudar o canal não resolve o problema, pois estes repórteres sensacionalistas estarão lá, no vídeo, fazendo suas aberrações em busca de audiência, tentando seduzir um povo ignorante e ávido por baixaria.
Deus nos proteja.
Dilton Cardoso
Valeu Diltão. Um abraço
ResponderExcluirErival, lembro bem dessa sua luta, à frente da editoria de polícia no Correio da Bahia, onde contava com uma equipe formada por gente de pulso. Recordo como se respirava novos ares nas páginas policiais, mais coerentes com direitos humanos. O fotógrafo ia lá e fazia a foto, obrigação dele, mas a linha editorial não permitia o sensacionalismo, a exploração das imagens - quantas vi no acervo do jornal e que não não foram publicadas! Hoje existe de fato uma plateia para estes programas que exibem a miséria alheia. Ou mesmo, o que também é sério, veículos invertem valores, e até transformam em musa uma gostosona assassinada, que vivia no meio da bandidagem. Nem tanto pra lá nem tanto para cá. Eri, vejo que inicia mais uma luta. Que ela seja coberta de glória!
ResponderExcluirMuito bom Eri. Eu como uma estudante de Jornalismo me sinto envergonhada em ver esse tipo de programação "invadir" a sala da minha casa, muitas vezes desmotivada também. Mas, ao longo do curso aprendi que isso não é Telejornalismo. Costumo dizer que o capitalismo comanda. Vender um programa ridículo, que aliena ainda mais a sociedade, que por muitas vezes acreditam que esse seja o programa que represente a sua realidade é o maior interesse. VERGONHA! O Teatro impera no perfil desses programas. Jornalismo, NÃO, não é isso que aprendi ao longo do meu curso.
ResponderExcluirMilena Marques
Legal Claudinha. Realmente é preciso que façamos alguma coisa em nome do bom jornalismo. Beijo
ResponderExcluirEu questiono o papel desempenhado pelo Ministério Público (Estadual e Federal) nesta "ópera bufa". Alguns procuradores, tão ciosos quando se trata de cobrar e denunciar situações que envolvem o Poder Executivo (Estado e municípios), não têm a mesma disposição quando se trata da iniciativa privada, principalmente os meios de comunicação. Será que é pelo fato deles serem midiáticos?
ResponderExcluirQuem sabe, meu amigo. Mas sua colocação é pertinente. Um abraço.
ResponderExcluirGrande Erival,
ResponderExcluirConcordo em gênero, número e grau. Me lembro outro dia de ter visto num destes programas o repórter inquirindo uma menina que havia sido estuprada pelo pai, perguntado como foi, o que ele fazia, se "passava a mão...
Cara, tive calafrios. E a coisa está piorando, inclusive chegando a outras vertentes, como a música com os pornopagodes. Não queremos censura, mas é preciso uma discussão maior sobre a questão ética.
...E nós que evitávamos publicar termos como bandidos, assaltantes... E insistimos tanto na ética de mantê-los "suspeitos"...
Claro, os absurdos vão continuar. O incrível é ver que ainda chamam os sujeitos de "jornalistas". (chicoaraujo)
Pois é Chico, são os jornalistas da era moderna. Uma vergonha! valeu.
ResponderExcluirNós, que fazemos parte da banda séria da imprensa, devemos combater isso com todas as forças. Esses programas popularescos atuam como assessoria de PMs; os valoram em excesso e suprimem as críticas quando as tem que fazer, o que é perigoso para exercer um jornalismo de qualidade.
ResponderExcluirE, na mesma proporção que excedem com os elogios aos policiais, depreciam o preso, por vezes suspeito; fazem chacotas, e exibem sua imagem, com base apenas em depoimentos oficiais, da polícia. Mas isso se resume à falta de preparo na academia e também a ausência de lastro cultural desses repórteres, editores e produtores que nos provam, todos os dias ao meio dia na televisão não ter.
Erival, querido, comecei no jornalismo antes de você e tenho dois ou três anos a mais de idade que você, mas tudo o que sei de jornalismo policial foi com você que aprendi. O olhar crítico, a dúvida ante a versão oficial, a necessidade de sempre pôr em dúvida aquilo que não presenciei (os supostos tiroteios, o presumível autor, apresentar um suspeito com todos os cuidados que uma suspeição requer, sempre ouvir o outro lado...).
ResponderExcluirAcho que levei tão a sério os ensinamentos que alguns policiais não gostavam de quando era eu o repórter de determinado caso.Lembra da delegada que se referia a mim como "aquela repórter chatinha"? E do delegado que se referia (e até hoje se refere) como "aquela mulher" de forma pejorativa? Então, compartilho do seu sentimento de estranheza ante os descaminhos que o jornalismo - sobretudo o jornalismo policial - vem trilhando nos últimos tempos. Mas, como um dos companheiros já disse aqui, a questão é muito mais séria. E não se resume à briga pela audiência (embora o fator $$$ pese e muito!). Trata-se da falência dos valores morais (endeusar uma moça envolvida com criminosos é ou não fim do poço?), da decadência da educação, da degradação da família enquanto instituição. Mas isso não se aprende nas faculdades.
Às vezes me pergunto sobre que causa nobre nossos procuradores de justiça estariam debruçados quando as pessoas presas estão sendo violentadas pela mídia. Tão ágeis em defender os direitos dos animais, nossos promotores esquecem de proteger o bicho-homem... Mas essa é outra questão. O que quero mesmo deixar aqui registrado é a minha admiração pelo profissional que você é, seja qual for a função que esteja exercendo, e lhe dizer que pode contar comigo nessa cruzada.
Seu apoio sempre será bem aceito. Afinal, não é de agora que, juntos, defendemos o bom jornalismo. Sei que essa briga é das grandes, mas, nós jornalistas das antigas e demais companheiros que lutam contra a falta de ética no exercício da profissão, no mínimo, podemos expressar nossa indignação. Um abraço.
ExcluirEri,
ResponderExcluirPrimeiro, que bom que temos um espaço onde podemos discutir nossa verdadeira função mais do que, enquanto jornalistas, enquanto cidadãos. Como todos os outros colegas, sinto-me violentada pela ação destes criminosos que se trajam de repórteres e invadam nossas casas agredindo, humilhando e transformando em teatro a triste condição dos, em geral, moradores de comunidades carentes desta nossa Bahia.
Pior, mercantilizam o sofrimento das pessoas, transformam em filme de comédia, banalizam a pobreza, a miséria, a ignorância e as violências sofridas todos os dias no Estado. Em outras palavras, comandam crimes que ferem o princípio maior constitucional que é o da dignidade humana.
Quando estou falando de lei, a título de informação para os "repórteres" que parecem não saber o que fazem, são aquelas normas que deveriam reger as relações sociais. Então, por que nossa legislação é ferida todos os dias em na tv e ninguém faz nada? Por que nenhum dos três poderes (legislativo, executivo e judiciário) se movimenta para tirar do ar, definitivamente, os criminosos que se fardam de defensores da população com os seus jargãos diários "sou o defensor do povo", entre outras coisas?
Bem, primeiro se eles estão no ar é porque aqueles conteúdos são consumidos não por uma mas por milhares de pessoas. Não é difícil entender porque é um comércio tão lucrativo em uma sociedade onde a educação nunca foi prioridade. Onde programas dão peixe e não ensinam a pescar (diga-se de passagem programas que vão garantir a permanencia da situação no poder por muitos e muitos anos).
E o pior é que quem consome estes veículos são as próprias vítimas deles. Sem educação, não conseguem perceber que viraram massa de manobra para dar audiência a um grupo, sem muitos escrúpulos, enriquecendo as custas de quem os oprime e violenta. E os nossos tradicionais veículos onde estão? Sem leitores, ouvintes ou telespectadores, eles tentam sobreviver as suas, particulares, crises financeiras. Eita realidade que me deixa fraca, sem forças para lutar pela profissão que amo e sempre amei.
Sim, e quanto a pergunta sobre os três poderes que assistem inertes a violência midiática? Eis aí uma pergunta controvérsia e que, para mim, ainda não tem resposta consolidade. Então, pergunto a vocês: Por que ninguém faz nada meu povo?
Bjss,
Obrigado Eri!
Oi, Baixinha
ExcluirJá estava pensando que não ia contar com você nessa briga. Ainda bem que veio reforçar essa pequena tropa. Afinal, do lado de lá tem muitos "guerreiros". Beijos
Oi, Eri
ResponderExcluirÓtima análise e reflexão. É realmente lamentával nos depararmos com esse fazer jornalístico de baixa qualidade. Temos tão poucos impressos, programas de tevê e publicações especializadas que já limitam nossa "cena jornalística". Precisamos, sim, de jornalismo de qualidade, de matérias que estimulem o pensamento crítico.
Você é um exemplo de profissional comprometido e que honra seu compromisso com a sociedade.
Parabéns pelas excelentes contribuições e pela incansável luta.
Tatiany
Valeu Taty. Um beijo
ExcluirConcordo em gênero, número e grau com vc, Erival. Estamos enfrentando um momento difícil com câmeras ocultas, a constante "falsidade ideológica" pra obter o furo, enfim, práticas que desconhecem as leis e continuam incólumes.
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa do blog. Já divulgei para meus alunos.
Continuamos esse debate na Facom.
abs
Valeu, estarei lá. Um abraço.
ExcluirGrande Eriva, é isso mesmo que acontece. Infelizmente existem colegas que aceitam sujar sua imagem para ganhar tão pouco, uma quase "prostituição", desculpe o termo, para fazer esse tipo de programa sensacionalista. Uma vez que a ética, que apredemos ao longo do curso, vai por água a baixo só para enfatizar o drama da notícia, visando apenas o ibope, deixando para trás os valores das vítimas ou dos acusados que cabem o Estado julgá-los. Grande abraço Eriva, fique com Deus.
ResponderExcluirHá quem diga que chutar cachorro morto é animalesco. Neste caso, não se trata de cachorro, mas sim de gente. Que está sendo chutada, depreciada e colocada no chão, em altura mais baixa do que gilete. Há uma relação de mão dupla da polícia com a imprensa. Se existem maus jornalistas, existem maus policiais que somados resultam em um mau serviço à população. O que termina sendo um desserviço das duas partes. Como bem disse Erival, "Na maioria das vezes, agem com a conivência de policiais, aos quais se referem como “guerreiros”, que, em troca de visibilidade midiática que lhes afaga o ego, permitem a livre atuação, seja na rua ou dentro de uma delegacia. E o pior é que não se tem feito nada para coibir prática tão absurda. Até quando vamos ter que aturar?"
ResponderExcluirEriva, esses programas me dão gastura. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirSem mais
Alexandre Lyrio
PS: Será que agora consigo postar em seu blog?
Finalmente conseguiu postar um comentário, hein! Às vezes me dá um misto de nojo e pena. Valeu, bandido.
ExcluirEri, olha eu visitando o seu blog! E o comentário sobre isso é que a visibilidade midiática conferida para os tais policiais "guerreiros" por jornalistas descuidados, ingênuos, mal informados, ou corrompidos, cúmplices de desmandos e que agem de má-fé, já transformou (e transforma) uns dois ou três deles em deputados. E, pior, tem deputado eleito com base nesse "currículo" que se arvora a dizer que não tem nada que o desabone profissionalmente, referendando aquele velho ditado que diz: "Homem que bate no peito, canalha perfeito". Um beijo!
ResponderExcluirBerna Farias