quinta-feira, 15 de março de 2012

A era dos inquisidores


Vi muita coisa que me indignou no jornalismo baiano, em especial na reportagem policial, ao longo dos meus vinte e tantos anos de profissão, principalmente com relação à linguagem desrespeitosa e chula utilizada por alguns profissionais e à publicação de fotos chocantes, a exemplo de corpos ensangüentados de vítimas de homicídios ou acidentes. Mas, no quesito desrespeito, ninguém nunca chegou tão longe como os atuais programas de TV sensacionalistas, com “repórteres”, verdadeiros inquisidores, agindo sem limites.  
Depois de atuar por alguns anos como repórter nos jornais Correio da Bahia e A Tarde, fui convidado a assumir a subeditoria de Polícia no Bahia Hoje, criado no início da década de 90. Naquele jornal, que infelizmente durou pouco, implantamos uma linha editorial diferente, dispensando o uso de termos pejorativos e desrespeitosos quando nos referíamos a pessoas presas pela polícia (muitas vezes inocentes) e com nossos fotógrafos orientados a registrar cenas de corpos e outras tão chocantes somente em segundo plano. Com o passar dos anos os demais jornais da cidade adotaram a mesma postura.

No entanto, enquanto o jornalismo impresso optava por uma linha mais ética, a mídia televisiva investia em programas sensacionalistas, buscando ganhar audiência com a exibição de cenas bizarras e uma performance, digamos, inadequada de seus “repórteres”.

Quase todos os dias assistimos esses profissionais enfiando o microfone nos rostos de pessoas detidas apenas sob suspeita de terem praticado algum delito, fazendo indagações descabidas e até tocando nos acusados. Não faz muito tempo um desses entrevistadores passou a mão nas nádegas de um dos presos, a quem insistentemente interrogava ao vivo. A sanha desses programas é tamanha, que desrespeitam até orientação da Justiça sobre a veiculação de imagens de adolescentes, mesmo de costas ou com os rostos preservados.

Na maioria das vezes, agem com a conivência de policiais, aos quais se referem como “guerreiros”, que, em troca de visibilidade midiática que lhes afaga o ego, permitem a livre atuação, seja na rua ou dentro de uma delegacia. E o pior é que não se tem feito nada para coibir prática tão absurda. Até quando vamos ter que aturar?