Idos
dos anos 90, provavelmente em meados de 1992. Estava na redação de A Tarde, preparando-me para mais um dia
na reportagem policial, quando um dos office-boys
me chamou para atender a uma ligação telefônica:
-
Diga aí, veio. Seo Castor mandou
perguntar quanto você quer para parar de escrever sobre o jogo do bicho. A
proposta veio de um agente da Polícia Civil, que, tempos depois, viria a se
afastar da instituição.
Fiquei
surpreso com a conversa feita sem rodeios, respirei e respondi: “Cara, eu não
faço esse jogo não”.
-
Poxa, eu sabia. Disse que você não iria aceitar, mas ele insistiu, afirmando
que tinha um bocado de jornalistas na mão e que ainda pretendia lhe convidar
para passar uns tempos no Rio com tudo pago, acrescentou desapontado.
Pouco
tempo depois, dormia na casa que estava construindo, na Travessa da Glória, Rua
Barão de Macaúbas, bairro do Barbalho, quando percebi alguém se aproximando,
chamando-me nervosamente: “Val, Val...”
Apesar
de assustado, reconheci a voz de Zeca, meu vizinho e apontador do jogo de
bicho, hoje falecido, e me acalmei. Tranquilizei minha mulher, que também despertara
assustada e, após abrir a portilhola da porta principal da casa, perguntei: “O
que foi, Zeca?”.
-
Caía fora, Val, tem um cara do bicho perguntando sobre você aqui na rua. Ele
esteve na minha banca e tem dois dias que fica ali no bar de Seo Loro.
Companheiro
de baba (um razoável lateral direito), principalmente no campo do Pela Porco – localizado nas redondezas do Barbalho, numa área
hoje completamente tomada por uma invasão – morava na rua principal, onde
explorava uma banquinha da contravenção.
Além
de parceiro de juventude, anos depois, tornou-se meu leitor, especialmente das matérias
sobre a máfia do bicho, assunto que conhecia por conviver no meio do jogo.
Sempre que nos encontrávamos, trocávamos ideias sobre o tema e, de vez em
quando, dava-me boas informações.
No
dia seguinte, logo cedo, entrei em contato com um delegado de minha confiança e
relatei o ocorrido, tendo ele se prontificado a interceder caso necessário.
Também acionei dois amigos de “rocha” para que ficassem de plantão no bairro a
fim de proteger minha família (Na época, além de mulher e filhos, minha mãe e uma
irmã moravam na mesma rua, em outra casa).
Fui
para o jornal e telefonei para um segurança da sede da Paratodos, que também me
conhecia de babas. Pedi que intermediasse um contado com algum banqueiro do
bicho e isso foi feito. Cerca de 20 minutos depois, recebia um telefonema do
contraventor que entrevistara há pouco tempo, com exclusividade, dentro da
fortaleza da Paratodos, localizada na Avenida Octávio Mangabeira, trecho de
Pituaçu.
A
princípio, tentou negar o fato, no entanto, numa nova ligação, confirmou a
história, afirmando que a pessoa em questão tinha sido enviada por bicheiros
cariocas (máfia do bicho) e não por banqueiros baianos, garantindo que o seu
retorno ao
Rio já tinha sido providenciado.
Rio já tinha sido providenciado.
Naquela
madrugada, a amizade construída nos bons tempos de baba, pode ter salvo minha
vida. Um grande abraço Zeca, que Deus te ilumine onde estiver.
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