terça-feira, 29 de novembro de 2011

'Causos' de polícia 4


Caí de avião e virei notícia

(Parte 2)

Quatro da manhã o carro do jornal me pegou em casa e, em poucos minutos, já estava no aeroporto. Pilotado por Geovane e tendo Sérgio como copiloto, o bimotor nos levaria até Correntina, numa viagem sem maiores problemas.
Além da equipe do Correio (eu e o fotógrafo Luís Hermano), viajaram o deputado José Rocha, a repórter da TV Bahia Ana Valéria e os cinegrafistas Robson Melo e Alberto Luciano Valente, conhecido pelos colegas de trabalho como  “Babam”.
Quando chegamos à Correntina logo percebemos um pesado clima, de tristeza e de dor, como não poderia ser diferente, pois todas as vítimas moravam naquele longínquo município do Oeste baiano, mais próximo do Distrito Federal do que de Salvador.
Como sempre ocorre em coberturas de sepultamentos ou em locais de crime, naquele dia foi difícil realizar a reportagem, pois o sofrimento das pessoas estava presente em suas faces. Perguntar o quê ?
No começo da tarde, após almoçarmos, iniciamos a viagem de volta, longe de imaginar o que nos esperava. Depois de algum tempo (chovia um pouco), descemos para reabastecer em Bom Jesus da Lapa, cidade que viria a ser palco da nossa agonia. Quase todos deixaram o bimotor, mas preferi não tomar chuva e fiquei no meu canto.
O piloto e o copiloto então retornaram e percebi que estavam tendo dificuldades para fazer o avião funcionar. “Temos que viajar logo, pois o pessoal da TV tem que botar a matéria no ar”, disse Geovane para Sérgio. Confesso que fiquei meio apreensivo ao ouvir isso, mas, em seguida, o avião pegou e os demais passageiros foram chamados a seguir viagem.
Minutos depois, iniciava nosso desespero. Eu rabiscava minha matéria num bloco de anotações, quando o bimotor perdeu força ao atingir uma grande bolsa de ar – fenômeno que os aeronautas chamam de “tesouro de vento” – e começou a despencar, de bico. Da janela ao meu lado esquerdo (viajava sentado na poltrona ao fundo do assento do copiloto), pude ver o chão se aproximar e o pensamento que invadiu minha cabeça deve ter sido igual aos dos demais tripulantes: “vamos morrer”.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

'Causos' de polícia 4

Caí de avião e virei notícia

  (Parte I)

Tarde de 27 de janeiro de 1989. Nunca vou esquecer aquele dia.  Retornava de Correntina, quase mil quilômetros de Salvador, quando o avião se desgovernou e caiu a cerca de 200 metros de altura. Pela primeira vez na minha vida profissional deixei de produzir para me tornar notícia. E nacional.
Graças a Deus, eu e os outros sete passageiros de um bimotor da Abaeté Táxi Aéreo conseguimos sobreviver. Nunca fui de acreditar em milagres, mas, como sempre digo ao comentar sobre este acidente, devo muitas horas extras a meu anjo da guarda!
Na noite anterior, ao retornar à redação do Correio da Bahia de mais uma jornada na reportagem policial, fui informado pela chefe de reportagem, Diva Maria, que deveria estar no aeroporto bem cedinho e seguir para Correntina, onde deveria cobrir a chegava de 17 corpos de moradores daquela cidade – transportados por um avião da FAB – que morreram em Brasília, onde o caminhão “pau de arara” em que viajavam se envolveu numa colisão.
Carregado de um monte de bugigangas, inclusive botijões de gás e outros produtos inflamáveis, o veículo pegou fogo e quase todas as pessoas que transportava foram consumidas pelas chamas.
Naquela época, só eu e minha querida Ana Paula Ramos (hoje, em A Tarde) éramos repórteres especiais no Correio. Ela chegou a ser escalada para realizar a matéria, mas, grávida de três meses da primeira filha (Mariana), acabou dispensada diante da longa viagem. Essa missão, que viria a ser a mais espinhosa da minha vida de repórter, acabou sobrando para mim. Poderia ter passado sem essa!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Viva o bom jornalismo

O descontentamento com o jornalismo praticado nos dias de hoje, principalmente na área de segurança, foi o principal motivo para que eu aderisse à chamada mídia eletrônica e que resultou na criação deste blog. A gota d’água foi o sensacionalismo exposto em torno de um grupo de criminosos, com atuação no Recôncavo e, em especial na cidade de Cachoeira, que se intitulou com uma sigla semelhante ao PCC, organização criminosa de São Paulo.
Ainda bem que prevaleceu o bom senso, ficando claro que os bandidinhos do nosso histórico município estavam anos luz longe do poderio da facção paulista.
Ontem, procurado por alguns colegas para repercutir matéria de O Globo sobre a investigação realizada pelo Ministério Público referente à existência de milícias em, pelo menos, dez estados do país, imaginei: “lá vem bomba”.
Como de costume, muitos sites rapidamente reproduziram o assunto, dando uma pitadinha a mais de veneno, como se a Bahia vivesse situação semelhante à do Rio de Janeiro. Mas, para minha felicidade, não tanto como assessor da SSP, muito mais como jornalista das antigas, o jornalismo impresso deu um show de imparcialidade e compromisso com a verdade. Parabéns para os repórteres Fábio Bittencourt (A Tarde) e Silvana Blesa (Tribuna da Bahia).
Verdadeira repórter de Polícia, Silvana fez matéria didática, esclarecedora, mostrando que, no sentido genérico da palavra, pode ser considerado milícia um agrupamento de pessoas que faz segurança clandestina ou que controla o transporte clandestino em determinados bairros de Salvador, liderado por policiais ou ex-policiais militares.
No entanto, em nenhum momento, afirma que aqui existem grupos milicianos com o controle amplo de favelas ou invasões, inclusive dominando o comércio de gás e TV a cabo, dentre outros serviços.
Portanto, fico, realmente, feliz com a prática do bom jornalismo e a existência de profissionais com sangue de jornalista de verdade correndo nas veias. Quando isso ocorre não existe linha editorial que consiga desvirtuar o trabalho.